segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O dia em que a Terra pulou

João era daqueles caras legais que todo mundo gostava de ficar perto. Um dia ele estava no meio de uma grande ponte com alguns amigos, quando de repente ele olhou o largo rio lá embaixo e gritou “Não acredito!” pulando da ponte logo em seguida.
Os amigos ficaram um instante sem acreditar no que viram. Pular daquela ponte era morte certa. Alice, namorada de João, olhou para baixo também, pensou por um instante e pulou atrás. A essa altura alguém já chamara a polícia e a imprensa já estava vindo.
As câmeras filmaram os outros dois amigos olhando para baixo, como se não entendessem. Em seguida ambos deram-se as mãos, gritaram alguma coisa como “eu não acredito” e pularam da ponte.
A notícia virou manchete em todos os jornais. Jovens cometem suicídio em massa sem motivo aparente. Algumas pessoas diziam que isso era culpa da televisão, outras diziam que eles usavam drogas, outras diziam que queriam apenas ser notícia.
Mas aconteceu algo curioso em várias outras cidades do país. Muitas pessoas, não apenas jovens, se dirigiam para os lugares mais altos das pontes e gritavam “Não acredito!” antes de pular lá de cima. A notícia novamente se espalhou, a mídia escandalizava a todos dizendo que isso era uma conspiração ou coisa parecida.
Pouco tempo depois, quando a notícia se espalhou para fora do país, em outros países do mundo muitas pessoas também começaram a se atirar de pontes, gritando “No creo!”, ou “Je ne crois pas!”, ou “Ich glaube nicht”. O mundo estava em desespero. O número de pessoas que pulavam das pontes era cada vez maior, em alguns países o governo teve que bloquear o acesso às pontes.
E assim a humanidade caminhou durante algum tempo, todos na desenfreada corrida em busca de uma ponte alta. Pessoas viajavam quilômetros à pé ou usando qualquer outro meio de transporte para chegar até uma ponte e se jogar lá de cima, gritando na sua língua um “Não acredito!”.
Em menos de seis meses, o número de pessoas no planeta caiu pela metade. Os países estavam desesperados por não ter onde colocar os corpos das bilhões de pessoas. Então foi assinado um pacto onde os grandes oceanos e a Antártica seriam utilizados como cemitérios, caso a onda de suicídios continuasse, seria necessário mandar os corpos para o espaço. Os governos destruíram as pontes, mas as pessoas agora subiam em árvores, postes, telhados e prédios. Gritavam “Não acredito!” e se jogavam lá de cima.
A imprensa estava animada, esse era um mistério em escala mundial que deveria ser desvendado. Então, alguns repórteres foram consultar um sábio que morava no cume do morro em algum lugar perdido na Europa. Ao chegar lá, antes mesmo que pudessem perguntar alguma coisa, ele gritou “I non credono!” e se jogou no penhasco atrás dele. Ao examinar o lugar onde o sábio estava sentado, encontraram um pergaminho onde estava escrito: “Ci sarà sempre qualcuno che salterà solo del ponte perché tutti stanno saltando”. Que em bom Português significa:

“Sempre haverá alguém que pulará da ponte apenas porque todos estão pulando”

Nenhum comentário: